terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ética? Educação?



Roselene Nunes de Lima

            Os nossos alunos sabem o conceito de ética, são capazes de dar aula sobre o tema. Estamos sempre fazendo debates e criando situações para testar a capacidade de apreensão deles. Infelizmente muitos de nós sabemos o que é ser ético – infelizmente mesmo, antes não soubéssemos, talvez fôssemos melhores enquanto pessoas. Mas, o conceito é mais bem assimilado quando é aplicado para nós mesmos, quando se trata dos outros... bem, “deixa para lá”, muitos dizem.
            Quando eu era criança vi um homem pedir um picolé e prová-lo, sem que o vendedor percebesse, depois voltou para o saquinho (que antes era aberto) e disse que preferiria outro sabor. Eu disse ao vendedor que jogasse os picolés fora, pois um homem tinha lambido um picolé, mas o vendedor não acreditou, pois eu era criança.
            Cresci e não posso passar despercebida. Saí e fui a um supermercado que inaugurou há menos de um ano em Maceió, lá se vende em varejo e atacado, os preços eram muito bons, mas estão aumentando. Presenciei de tudo por lá. Uma família tomou dois iogurtes, depois colocou as embalagens no lixeiro “nas barbas” da funcionária que etiquetava os preços dos legumes e frutas, aquela fome de morrer que não pode esperar para passar pelo caixa, foi roubo, quer dizer, furto. Vi pessoas tomando outros líquidos e jogando os frascos vazios no chão, comendo biscoito e deixando as embalagens abertas nas prateleiras, ainda vi um homem furando a fila e dizendo que estava morrendo e que essa justificativa era para furar a fila, eu falei a ele que quem está morrendo não sai de casa para um supermercado, sai para o cemitério. É lógico que o cara ficou irritado fazendo com que eu fosse a vilã da fila.
            Vocês já perceberam que algumas pessoas que falam muito baixo, às vezes para defender seus “direitos” passam a falar bem alto? Pois foi o que aconteceu com esse homem que furou a fila, ele pediu para passar na frente de um cliente e esqueceu que havia outras pessoas na mesma fila e ele estaria contrariando todas.
            As pessoas desrespeitam as outras furtando nos supermercados, nas empresas que trabalham, nas casas dos amigos, nos consultórios médicos; essas pessoas vivem atacando a nossa dignidade, desafiam as regras que elas “ensinam” aos filhos, furtam a energia e a água através do famoso “gato”. Essas mesmas pessoas ficam bravas, chateadas e indignadas com as falcatruas do governo, seja no escândalo dos taturanas, da merenda escolar ou qualquer outro. O que elas estão fazendo?
            As pessoas pensam que vão dar a melhor escola para os filhos porque a escola pública “não presta”, na linguagem de alguns, mas também não podem pagar as mensalidades, são caras para a maioria dos brasileiros, tem lista de material para comprar e outros adendos que a escola “inventa” durante o ano letivo. Em resumo: furtam também a escola, que é “boa”, no ponto de vista deles. Deixam de pagar o ano todo e depois tiram os filhos dizendo que não gostaram da escola.
            Chorem todos ou façam vistas grossas para a “ética” e a “educação” dessas pessoas, pois não dá para educar gente criada com idade adulta.

Artigo publicado no jornal Tribuna Independente no dia 11.1.2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Papai Noel perdeu o emprego!

Roselene Nunes de Lima


O bom velhinho – ou ilusório velhinho – já está desempregado, mas ele é multifacetado, agora é hora de ser Rei Momo, depois o Coelhinho da Páscoa, a seguir a Mãe de todos,..., ele “vira” até namorado, não importa a sua face, o que importa é que o povo fica cada vez mais consumista, compra muito. O mês de dezembro deixa o comércio cheio de dinheiro e o assalariado com os bolsos e as bolsas vazias bem rapidinho, a poupança nem é lembrada. O décimo terceiro acaba logo e o cartão de crédito entra em cena. As lojas imploram por eles. Os e-mails que recebemos são em efeito cascata, um após o outro. Promoção – de mentirinha – de tudo, muito fácil comprar, difícil é equilibrar as contas depois da “festa”.  
            Se levarmos em conta o Papai Noel, do mundo machista, apenas sendo ele mesmo, uma pessoa gorda, idosa e com barba branca comprida e uma barriga enorme, sem contar com o mutismo. Fala quase nada ou nada, mas acena bastante. O interessante é que as mães compram os presentes e, mesmo assim, continuam sendo o “Papai Noel”. A figura de bonzinho está na abstração de algumas crianças, criada pelo comércio para estimular o consumismo, pois quando essas crianças se deparam com ele ao vivo nas lojas, ficam com medo ou acanhadas. Há algumas crianças – grandes – que simulam tanto para os pais que acreditam nessa ilusão ao ponto dos pais acreditarem que elas ainda acreditam em Papai Noel, ou seja, elas próprias já são os “papais noeis” dos pais. E a vida segue muito feliz até que os pais descobrem que ficaram “Velhos Noeis” e já se transformaram em “Vovôs Noeis”, a ilusão continua, passam a criar os filhos, netos e...
            Chaga a hora da distribuição dos presentes. Todos compraram – com dinheiro ou cartão de crédito em parcelas – presentes caros. É, as pessoas não querem ficar numa situação inferior comprando presentes baratos, o ideal é o caro mesmo. E vocês já perceberam que alguns presentes são inúteis, depois do: “Adorei!” o quarto de entulho é contemplado, lá são esquecidos para sempre. É o famoso amigo secreto. Tem também o inimigo secreto, que é uma brincadeira de mal gosto, bem apreciada por aqueles que não fazem uma reflexão sobre o verdadeiro sentido de Natal. Logo uma pessoa detona com a outra e fica tudo bem.
            Junto com o final das festas, além do emprego dos Papais Noeis, os outros empregos vão-se embora. Aqueles chamados de temporários. Vender em lojas parece fácil. Atender de qualquer jeito, sem saber preços dos itens, sem saber atender bem os clientes, mas é festa, não precisa ser bom no atendimento, o cliente tem dinheiro, as lojas estão cheias e “o dinheiro está ávido” para sair das bolsas e dos bolsos. Tem outra, os funcionários ditos “fracos” só ficam dois meses mesmo.
           
Artigo publicado no jornal Tribuna Independente no dia 2.1.2011