quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Escola pública não é punição


Roselene Nunes de Lima

            As aulas já vão começar nas escolas públicas municipais e estaduais, todos estão ansiosos para rever os amigos antigos e conhecer novos. Os alunos que já são clientes, o que se chama ‘da casa’, conhecem a escola e seu sistema, os novos vão buscar adaptação devagar ou rapidamente, depende de cada um. Bem pensado no termo devagar, pois têm grupos que são de uma empatia formidável e tão grande que na primeira semana já parecem amigos inseparáveis. Os jovens são assim, adaptam-se muito facilmente, o que é muito bom para as relações nas escolas.
            Na escola paga também funciona parecido, até porque somos todos seres humanos e não somos quase nada diferentes. Os costumes de um ambiente parecem com os costumes de outros ambientes, falando a mesma língua ou não passamos por situações similares.
            Alguém já ouviu um pai ou uma mãe dizer a célebre frase: “Se não passar de ano nessa escola eu coloco na escola pública.”? Acredito que muitos de nós já escutamos.  O pior é que ainda tem o triste complemento: “Eu não vou gastar dinheiro se você não quer estudar”. As famosas chantagens que às vezes dão certo e os filhos chantageados “estudam” para serem aprovados porque ir para escola pública é passar o maior mico, no ponto de vista de alguns alunos ou mesmo dos pais.
            Agora eu pergunto: estudar na escola pública é punição? Será que é tão ruim como esses pais falam? O interessante é que nós já fomos alunos das escolas públicas. Sem contar que há algumas escolas particulares que são tão sem estrutura física e humana que são capazes de atrasar por meses os salários dos professores e, mesmo assim os alunos acham uma vantagem imensa estudar nelas. Alunos pobres que, muitas vezes nem pagam a mensalidade, se acham ricos.
            Além da escola pública ser desprestigiada ainda há pessoas que chegam nelas num “salto” de dá medo, exigem o atendimento imediato e dizem que vão deixar o filho naquele ano porque é o jeito.
            Os pais que fazem da vida dos filhos um jogo de azar, apostando nesse ou naquele lugar para que eles se deem bem na vida poderiam tratá-los de forma humana, descobrindo as fragilidades e necessidades deles, seus anseios, seus pontos fortes e explorar bem o que é de melhor que tem dentro de cada um, mostrar porque se deve estudar e que a escola é sempre muito boa e nos possibilita conhecer um mundo a nossa frente.
            Senhores pais, escola pública não é punição, um dia já estudamos nela e criamos nossos filhos.

Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente no dia 17.2.2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Paradoxos brasileiros



Roselene Nunes de Lima

            O Nordeste do Brasil é no Brasil, mas não parece para os que o discriminam. Duas reportagens passaram na televisão com o mesmo tema e com informações diferentes. A televisão transmite informações sem base em pesquisa? Os telespectadores ficam confusos quando assistem a dois canais e,se assistirem somente a um canal, ficam certos das informações. A reportagem em um canal de televisão foi informando que a região sudeste está carente de pedreiros porque esse profissional algum tempo atrás era oriundo do Nordeste do Brasil e, pelo fato de haver o programa social do governo federal, bolsa família, esses pedreiros não estavam mais precisando buscar emprego fora do Nordeste, pois se sustentavam do dinheiro do programa. Já outro canal disse que o motivo da carência de profissionais da construção civil em São Paulo e Rio de Janeiro se devia ao crescente número de obras no Nordeste e, as pessoas que antes buscavam empregosem outros cidades,passou a tê-los próximo as suas residências. Pode até ter uma terceira opinião, mas a primeira quis diminuir os nordestinos, como se no Nordeste do Brasil só existisse pedreiro e que o povo nordestino se sustentasse somente do bolsafamília. Sabemos que o bolsa famíliaatende pessoas de baixa renda do Brasil inteiro.
As pessoas procuram emprego e o nível exigido é curso médio da Educação Básica, mas ter curso médio não garante saber ler e escrever, requisito mínimo para se trabalhar como aprendiz ou no comércio, pois segundo o sítio www.planetaeducacao.com.br, “No Brasil, 75% das pessoas entre 15 e 64 anos não conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Esse número inclui os 68% considerados analfabetos funcionais e os 7% considerados analfabetos absolutos, sem qualquer habilidade de leitura ou escrita. Apenas 1 entre 4 brasileiros consegue ler, escrever e utilizar essas habilidades para continuar aprendendo.”, o que significa que só 25% das pessoas conseguem ter a habilidade de corresponder as expectativas das empresas.
Muitos alunos matriculados, que se acham estudantes, mas na verdade são frequentadores de aulas, iludem os familiares quando “passam” de ano – são aprovados – e dão a impressão que estão aptos a galgar, de fato, degraus da intelectualidade.
O governo federal quer alunos aprovados com qualidade, mas só libera dinheiro para a educação se aquela escola tiver alto índice de aprovação. Ter qualidade é difícil num universo de alguns professores sem compromisso com a educação alheia – só pensam na educação dos seus filhos – ou muitos alunos com históricos variados nas suas vidas, como desinteresse dos pais por eles, facilidade de aquisição de bens materiais vendendo drogas, principalmente quando esse aluno é menor de idade. Outro fator que atrapalha o interesse em estudar são os jogadores de futebol sendo bem valorizados pela mídia. Todos aqueles que gostam de jogar uma “pelada” também acham que podem ter sucesso, mas não é verdade.
Nós, professores, precisamos construir um Brasil pensante e crítico.
Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente em 2.2.2011