sexta-feira, 15 de julho de 2011

Precisa-se de carinho


Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga


            Os pirulitos são sempre bem recebidos. Uns ficam felizes pelo prazer de saborear aquele doce, outros ficam pensativos, intrigados sem saber o porquê daquela surpresa que chega na hora da aula e já é permitido abrir e se deliciar. São pirulitos ofertados aos alunos em qualquer data do ano, pois não precisa ter um motivo especial para presentear alguém com uma surpresa, principalmente se a pessoa for o seu aluno, criança, adolescente ou adulto, não importa, todos gostam bastante.
            Faço uma distribuição de pirulitos com os meus alunos, não importa a escola, de vez em quando compro uns pacotes e levo para a sala de aula, não importando a idade deles nem o horário de estudo, todos gostam de receber. Os comentários sobre o ato é bem diversificado. No primeiro momento eles ficam espantados, depois ficam até cobrando.
            Fiz uma distribuição numa escola paga, daquelas bem caras, quando fui professora de turmas de 6º ano, eles adoraram, ficaram gratos e satisfeitos, foi um imenso carinho, alguns me deram até um aperto de mão, um abraço ou um sorriso. Gostei muito mais do que eles. O pirulito era daqueles mais baratos mesmo, que deve custar 10 centavos, mas o gesto, para eles, é que foi muito importante. Não reclamaram, muito pelo contrário, agradeceram. Fiquei pensando naquele momento que eles podem comprar pirulitos ou até outros doces mais caros, pois a mensalidade que os pais deles pagavam equivalia a metade do meu salário. Entendi que o carinho era o que contava. Eles nem perguntavam o porquê do presente.
            Na escola gratuita a experiência foi muito parecida, mas tem outras cobranças. Fiz uma distribuição ontem aos alunos do 6º ano e eles me fizeram muitas perguntas. Perguntaram: “Porque a gente merece ganhar pirulito?” e “Porque a senhora dá pirulito pra gente”, eu respondi que eu dou pirulitos porque eles gostam e merecem porque são legais. Fazendo assim eles passam a ter a autoestima aumentada, pois são valorizados e se sentem queridos.
            Outras vezes que fiz isso, tive outras respostas, os alunos querem dois pirulitos, pedem para os irmãos que estão em casa, pedem um maior ou mais caro que aquele, reclamam bastante, são insatisfeitos de carteirinha – infelizmente.
Dos 12 anos que leciono tive as mais diversas experiências de satisfação ou insatisfação entre os alunos. Percebi que alunos que são mais abastados financeiramente gostam do presente pelo carinho e outras mais pobres, aqueles abaixo da linha da pobreza, querem se satisfizer com um bem que seja caro, que tenha um valor monetário, não o sentimental, pois este precisa ser resgatado.
           
            Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente no dia 3.6.2011

Péssimo atendimento


Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga

            Não há quem diga que está sendo tratado de forma adequada nos ambientes frequentados. Se há justiça nos atendimentos em supermercados ou bancos. Frequentemente vamos aos super e hipermercados da cidade e nos aborrecemos com os preços dos produtos divergindo das gôndolas com o registro nos caixas. É desagradável, pois temos que, além de vigiar os registros, explicar o erro e ir buscar a etiqueta para o operador de caixa dar o desconto. Sem contar com aquelas pessoas que se sentem donas do pedaço e comem o que querem antes de pagar.
            Os atendimentos em hospitais e clínicas médicas também são vilões para a população. São demorados, os médicos chegam muitas horas atrasados, sempre com uma desculpa muito estranha. É bem melhor admitir que têm tantos empregos que não têm tempo para tamanho trabalho. Os planos de saúde estão nesta discussão, pois são caros e os atendimentos em consultas e exames são de amargar nas filas.
            Quanto aos atendimentos bancários vão de mal a pior. Os terminais são lentos, têm risco de clonar os nossos cartões, alguns nunca funcionam e outros estão sem papel para impressão ou estão sem dinheiro. Outro dia fui ao Banco do Brasil, agência tabuleiro, e tive a certeza de que os maus préstimos nos serviços tinham começado lá. Pedi um copo d’água ao vigia, que me encaminhou a um funcionário do balcão, que me encaminhou para o piso térreo, que não me encaminhou para ... Na verdade o atendente com um sorriso sarcástico me falou que água tinha numa lanchonete na frente do banco. Eu, sinceramente, odiei a resposta dele. Procurei o gerente e fiz minha reclamação dizendo que água não se nega para ninguém, nem para um cachorro na rua. Ele me ofereceu água e eu falei que não estava pedindo esmola, pois estava na condição de cliente. Fiquei muito chateada e comprei água lá fora. Há 17 anos eu dou lucro, também, a esse banco e recebo um sorriso sarcástico, de presente, de um funcionário pensando que porque passou num concurso tem condições de esnobar os clientes.
            Atendimentoruim.com está nas operadoras de celular. Ficamos de 50 minutos a 1 hora e meia esperando para o atendimento acontecer, isso quando não cai a ligação. Quando alguém atende prefere passar para outro atendente.
            Tenho preferido comprar na internet, pois o atendimento é rápido, seguro e eficiente. O pior disso tudo é que estamos ficando muito mecanizados, não temos mais contado com pessoas e quando temos a ineficiência dos serviços atrapalham o bom andamento. Está havendo um desserviço generalizado.

Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente no dia 13.7.2011