sábado, 15 de outubro de 2011

Bônus ao invés de ônus


Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga


            A escola, a família, a sociedade, a política e o sistema judiciário estão sempre beneficiando com bônus as pessoas que merecem ônus, correção, punição. Os atos são inconsequentes e prejudicam outras pessoas.      O “dono do pedaço” é aquele que fere e machuca as pessoas, é aquele que consegue muito dinheiro com meios desonestos, não importa se é bandido que fala “a gente vamos”, que não tem educação escolar ou se é aquele que tem poder, educação nas melhores escolas ou cria as leis.
            Na escola, enquanto somos professores, estamos enfrentando alunos que desafiam e “tiram onda” com os familiares, a mãe ou o pai, qualquer pessoa, menos com a polícia – cara a cara – porque essa tem algo a mais que nós não podemos ter, a arma. Os termos limite, bom senso, responsabilidade, respeito, ética, ... são pouco conhecidos por esses órfãos de pais vivos.
            O que não dá para concordar é que a sociedade cobre da escola compreensão, delicadeza, o “vamos ver a história de cada um”. Todos nós temos uma história e, em se tratando do Brasil as histórias são muito ruins, os problemas existem. Esse ver a história de cada um está sendo confundido com o vamos dar bônus a todos que têm uma história ruim e, o resultado é que a sociedade fica carente de alunos que saiam da escola sabendo tratar bem os outros, que saibam ler e entender o que estão lendo e que tenha bom senso e senso crítico para viver no nosso país.
            No ritmo que nossos estudantes estão, com total desinteresse consigo próprio e com tantos bônus e tanta compreensão da leitura do ECA, eles vão pedir esmola a não sei quem daqui a algum tempo ou vão ser bandidos, com algumas exceções.
            Os livros para esses “estudantes” têm servido de desodorante, sempre debaixo do braço e a escola um local para “azarar”, ouvir música, filmar, tirar fotos com a galera, mangar dos colegas e dos educadores.
            Cada um tem a sua história. A história do nosso país consegue ser bem pior que todas as outras. Um país que vende bebida alcoólica aos montes e faz comercial o tempo todo e, paradoxalmente tenta combater o uso de drogas; que pune uma pessoa séria que se defende de um bandido que invade sua casa; um país que defende políticos corruptos e assassinos. Este país sim, tem uma história ruim. Então vamos fazer uma parceria para que os nossos alunos também vejam as outras histórias e saibam lidar com a sua própria para que consigam crescer e serem úteis.

Artigo publicado no dia 15.10.2011 no Jornal Tribuna Independente

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Adulto e preconceito



Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga

            Tanto barulho e tanta manifestação por aquilo que não se sabe o que é e só tem uma ideia, que nosso dia a dia já fica cansativo demais. É verdade. As pessoas ouvem tanto um disse-me-disse que acabam acreditando no que ouvem sem saber se é a realidade. Para entrar na onda de uma discussão aqui e outra ali, na mídia, alguns políticos – bem desinformados – opinam e criticam o que nem viram e nem leram.
            O barato do momento é o kit, esclarecendo o que é ser homossexual e bissexual, que o Ministério da Educação queria enviar as escolas. Muita gente não sabe nem o que é ser heterossexual. Quanto a sexualidade, muita gente não sabe nem o que é ter relação sexual, nem sabe como é “o que vem depois”, somos um país pouco instruído nesta área.
            O que está acontecendo, quase todos os dias, é que políticos dão opinião nos jornais criticando o tal kit – tão abominado – sem ser apresentado. Outro dia li as opiniões de uns políticos de Alagoas apoiando a presidente Dilma por ter tirado de circulação o kit – que foi um trabalho coletivo de uma equipe profissional – e admitindo que não leram e não assistiram aos vídeos. Ora, tenha paciência! Não entendo isso como opinião própria desses políticos, mas uma tremenda bajulação com quem está acima deles.
            O kit não é o bicho que fazem. Todas as famílias têm um gay, não adianta esconder, pois quem esconde é só para evitar ouvir a sua própria discriminação. Gays são pessoas que podem ser boas ou ruins, pobres ou ricas, feias ou bonitas, doentes ou saudáveis, da mesma forma que os não gays também são. Sou professora e dou sempre aulas de educação sexual a crianças e adolescentes, falo tudo que é preciso para cada época e eles perguntam muito, têm muitas dúvidas que muitos adultos também têm. Apresento a eles que existem relações sexuais entre pessoas de sexos diferentes, entre pessoas de mesmo sexo, entre pessoas portadoras de necessidades especiais, entre pessoas idosas e entre cadeirantes. Não há mal em nada disso. Esclareço a diversidade entre nós. Garanto a vocês que a aula é esclarecedora e os alunos passam a ter respeito pelos colegas que são gays ou especiais.
            Senhores e senhoras que criticam muito e não contribuem para o país melhorar, por favor, parem com esse achismo, pesquisem, aprendam com nossos alunos, pois toda sala de aula tem um gay ou mais, todos nós temos os mesmos direitos. Ser gay “não pega”, não é como doença. As pessoas são heterossexuais ou são homossexuais, não há escolha. A escolha está nos preconceituosos para querer ou não aquela pessoa na sociedade.

Artigo publicado no jornal Tribuna Independente no dia 17.6.2011

Somos movidos a incentivos


Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga

            Ter determinação para realizar uma tarefa não é nada fácil, pois para ser determinado é preciso ter autoestima elevada e ter incentivo sempre. O incentivo sempre foi e será uma das ferramentas necessárias a conclusão do que se começa ou se quer começar. Com incentivo podemos realizar muito daquilo que pretendemos, pode ser bom ou ruim. E de onde tirar esse poder?
            Podemos ter o nosso próprio incentivo sem que as outras pessoas atrapalhem ou interfiram nos nossos objetivos, mas outras não têm essa força, precisam de incentivos exteriores, que alguém as ajudem.
            Nosso País tem tido resultados muito ruins na educação. Aquela ineficiência e, nós, professores, somos, constantemente apontados como culpados. Compare a cobrança que existe conosco com uma partida ou campeonato de futebol, sempre o erro da derrota é atribuído ao técnico do time, ele está “chutando a bola fora”.
            Voltemos para o universo alunos e descubramos, ou pelo menos, tentemos descobrir os motivos que os levam a tamanho desestímulo, preguiça de pensar e desrespeito consigo próprio. Seria a pouca cobrança e muito bônus dados pelos professores? Seria a casa muito pequena com uma família numerosa? Seria a família esfacelada, seja rica ou pobre, pelas perdas constantes que não levantam ninguém?  Seria a falta de ideal na vida? O que seria?
            São tantas dúvidas que chegamos a pensar que tudo isso é uma doença que paralisa a coragem para pensar e agride a tomada de consciência e atitude para se conquistar o que realmente vale a pena dentro da educação.
            Sabemos que muitos dos nossos colegas na educação estão muito preocupados com os seus próprios filhos – estes estudam nas escolas particulares – e, esquecem-se de dar educação de qualidade aos seus alunos, também se esquecem de tratá-los bem, com urbanidade como manda a lei. Mas dizem que os fora-da-lei estão presos ou respondendo processo.
            Aos colegas de profissão, peço atenção para nossos alunos, que os tratem bem, sejam verdadeiros educadores, não deixem que eles fiquem a margem da sociedade, a responsabilidade, mais tarde, pode ser nossa, pelas barbaridades que eles podem vir a fazer. Se não tratarmos os nossos alunos com respeito e com intenção de fazer uma educação de qualidade poderemos ser vítimas deles e seus filhos também, pois são de idades parecidas. Cuidado: condena-se o aborto e odeiam-se os “abortos vivos” que estão importunando a sociedade.
 Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente em 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Precisa-se de carinho


Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga


            Os pirulitos são sempre bem recebidos. Uns ficam felizes pelo prazer de saborear aquele doce, outros ficam pensativos, intrigados sem saber o porquê daquela surpresa que chega na hora da aula e já é permitido abrir e se deliciar. São pirulitos ofertados aos alunos em qualquer data do ano, pois não precisa ter um motivo especial para presentear alguém com uma surpresa, principalmente se a pessoa for o seu aluno, criança, adolescente ou adulto, não importa, todos gostam bastante.
            Faço uma distribuição de pirulitos com os meus alunos, não importa a escola, de vez em quando compro uns pacotes e levo para a sala de aula, não importando a idade deles nem o horário de estudo, todos gostam de receber. Os comentários sobre o ato é bem diversificado. No primeiro momento eles ficam espantados, depois ficam até cobrando.
            Fiz uma distribuição numa escola paga, daquelas bem caras, quando fui professora de turmas de 6º ano, eles adoraram, ficaram gratos e satisfeitos, foi um imenso carinho, alguns me deram até um aperto de mão, um abraço ou um sorriso. Gostei muito mais do que eles. O pirulito era daqueles mais baratos mesmo, que deve custar 10 centavos, mas o gesto, para eles, é que foi muito importante. Não reclamaram, muito pelo contrário, agradeceram. Fiquei pensando naquele momento que eles podem comprar pirulitos ou até outros doces mais caros, pois a mensalidade que os pais deles pagavam equivalia a metade do meu salário. Entendi que o carinho era o que contava. Eles nem perguntavam o porquê do presente.
            Na escola gratuita a experiência foi muito parecida, mas tem outras cobranças. Fiz uma distribuição ontem aos alunos do 6º ano e eles me fizeram muitas perguntas. Perguntaram: “Porque a gente merece ganhar pirulito?” e “Porque a senhora dá pirulito pra gente”, eu respondi que eu dou pirulitos porque eles gostam e merecem porque são legais. Fazendo assim eles passam a ter a autoestima aumentada, pois são valorizados e se sentem queridos.
            Outras vezes que fiz isso, tive outras respostas, os alunos querem dois pirulitos, pedem para os irmãos que estão em casa, pedem um maior ou mais caro que aquele, reclamam bastante, são insatisfeitos de carteirinha – infelizmente.
Dos 12 anos que leciono tive as mais diversas experiências de satisfação ou insatisfação entre os alunos. Percebi que alunos que são mais abastados financeiramente gostam do presente pelo carinho e outras mais pobres, aqueles abaixo da linha da pobreza, querem se satisfizer com um bem que seja caro, que tenha um valor monetário, não o sentimental, pois este precisa ser resgatado.
           
            Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente no dia 3.6.2011

Péssimo atendimento


Roselene Nunes de Lima
Professora e Psicopedagoga

            Não há quem diga que está sendo tratado de forma adequada nos ambientes frequentados. Se há justiça nos atendimentos em supermercados ou bancos. Frequentemente vamos aos super e hipermercados da cidade e nos aborrecemos com os preços dos produtos divergindo das gôndolas com o registro nos caixas. É desagradável, pois temos que, além de vigiar os registros, explicar o erro e ir buscar a etiqueta para o operador de caixa dar o desconto. Sem contar com aquelas pessoas que se sentem donas do pedaço e comem o que querem antes de pagar.
            Os atendimentos em hospitais e clínicas médicas também são vilões para a população. São demorados, os médicos chegam muitas horas atrasados, sempre com uma desculpa muito estranha. É bem melhor admitir que têm tantos empregos que não têm tempo para tamanho trabalho. Os planos de saúde estão nesta discussão, pois são caros e os atendimentos em consultas e exames são de amargar nas filas.
            Quanto aos atendimentos bancários vão de mal a pior. Os terminais são lentos, têm risco de clonar os nossos cartões, alguns nunca funcionam e outros estão sem papel para impressão ou estão sem dinheiro. Outro dia fui ao Banco do Brasil, agência tabuleiro, e tive a certeza de que os maus préstimos nos serviços tinham começado lá. Pedi um copo d’água ao vigia, que me encaminhou a um funcionário do balcão, que me encaminhou para o piso térreo, que não me encaminhou para ... Na verdade o atendente com um sorriso sarcástico me falou que água tinha numa lanchonete na frente do banco. Eu, sinceramente, odiei a resposta dele. Procurei o gerente e fiz minha reclamação dizendo que água não se nega para ninguém, nem para um cachorro na rua. Ele me ofereceu água e eu falei que não estava pedindo esmola, pois estava na condição de cliente. Fiquei muito chateada e comprei água lá fora. Há 17 anos eu dou lucro, também, a esse banco e recebo um sorriso sarcástico, de presente, de um funcionário pensando que porque passou num concurso tem condições de esnobar os clientes.
            Atendimentoruim.com está nas operadoras de celular. Ficamos de 50 minutos a 1 hora e meia esperando para o atendimento acontecer, isso quando não cai a ligação. Quando alguém atende prefere passar para outro atendente.
            Tenho preferido comprar na internet, pois o atendimento é rápido, seguro e eficiente. O pior disso tudo é que estamos ficando muito mecanizados, não temos mais contado com pessoas e quando temos a ineficiência dos serviços atrapalham o bom andamento. Está havendo um desserviço generalizado.

Artigo publicado no Jornal Tribuna Independente no dia 13.7.2011