Roselene Nunes de Lima
A cada dois anos acontece o mesmo evento: eleições. Todos sabem que às vésperas da realização desta grande festa democrática ficamos agitados, planejamos as idas aos municípios vizinhos, se for o caso de quem não vota na sua cidade, fazemos parcerias com os colegas nas caronas e até fazemos uma festinha particular quando os nossos candidatos, aqueles que acreditamos que têm as melhores chances de melhorar o Brasil, estão na frente. Uns ficam tristes e às vezes até agressivos por não conseguirem o que queriam e outros felizes. No geral estamos tristes por tantas mortes nas filas dos hospitais públicos, tanta violência e tantas pernoitadas as portas de escolas públicas, as pessoas armam as barracas e por vezes, também, “barracos”. Não precisamos passar por tudo isso, que infelizmente não estamos conseguindo melhorar rapidamente. O êxito demora, somos muitos e temos necessidades demais.
Falando em violência, pensamos que as “faculdades” que “diplomam” os bandidos estão sempre de portas abertas e com mensalidades pagas aos “alunos”, porque é notícia ruim a todo o momento, está muito banal ver um homicídio ou qualquer ato violento. Abuso sexual contra adultos e crianças e (...). Parece-nos faltar sempre a punibilidade. Então fica impossível falar de tudo isso e a criança ficar alheia ao que ocorre, pois ela é, muitas vezes, a vítima.
Quem quiser que pense que a criançada está por fora de tudo isso. Criança não brinca apenas, ela está atenta a tudo o que ocorre ao seu redor, sabe e vê tudo que passa por perto dela. Aprende facilmente, discute as questões sociais, sabe entrar em qualquer assunto, embora tenha tantas dúvidas e enganos, mas os adultos também têm.
No período que a televisão transmite o guia eleitoral alguns reclamam e não assistem, adultos estão cansados das promessas de políticos e se esgotam facilmente de assistirem o que julgam balela, não é para menos, com tanto episódio ruim na vida real, ninguém deixa de ter razão – que por vezes tem sido uma razão coletiva. Embora muita gente pense que não, mas as crianças estão assistindo o guia eleitoral, sabem as músicas, os partidos, as propostas de todos os candidatos, elas discutem qual deve ser o sucessor desse ou daquele político, arriscam a dar um palpite para o vencedor, acompanham os debates e julgam os melhores políticos na discussão. As crianças votam nulo, branco e nos candidatos que escolhem, elas participam também. Elas não votam por votar, sempre buscam defender as suas escolhas. A grande diferença é que elas defendem os seus candidatos sem agredir verbalmente o colega que defende outros candidatos, pois acompanho a movimentação delas nas escolas que trabalho. Isto é o que chamamos de democracia.
Artigo publicado no jornal Tribuna Independente dia 24.9.2010